A sensação que eu tive foi do
sentimento não caber em mim. Eu, pequena e insuficiente diante dele. Limitada,
baixa demais, magra demais, estreita demais, superficial demais. Muito parecido
com um grande contorcionista que tentou entrar em minúscula caixa. Entrou, e lá
dentro deu-se conta que ainda não estava preparado. Pernas e braços, cabeça e
coluna, pés, mãos, em desesperado romper. Ele - o sentimento – não cabendo em
mim, arrebentando-me, procurando frestas, forçando dobras, tentando expelir-se.
Ele – contorcionista emocional – imenso, intenso, gigante dentro de mim,
pequena embalagem, frágil, rasgando-se.
Foi assim que eu te senti. Grande demais
para caber em mim. Como aquelas alegrias de natais infantis, a visão da árvore
e dos tão esperados presentes não cabendo no pequeno coração, ou a imagem
bonita demais para as pequenas pupilas. Gigante como a alegria incomensurável
da primeira bicicleta. A visão do carimbo “aprovado” no boletim, depois de um
ano difícil. O primeiro amor de verdade. Deliciosos beijos. Um orgasmo. Uma
grande perda. Um epílogo do Machado, quando eu ainda não sabia o que era
positivismo. A boa carne frita que preparava a minha falecida avó. Banho de
rio. Pescaria com o meu pai. Paixão. Os reencontros. Continuar em alguém.
Enorme como todas essas sensações, assim tu te fizeste. Sinto-me insuficiente
desde muito tempo. Fizeram-me pequena demais para tanto sentir. Pequena demais
para tamanhos sentimentos. Por que, contigo, haveria de ser diferente? Um
sentimento assim arremessou-me contra meu interior, quis explodir em vários
momentos. Controlei-o .Saiu-me pelas cordas vocais em sutis cantarolares
embaixo do chuveiro; na contemplação de um ou outro movimento teu; na visão embaçada
e distorcida que fiz do teu ser; em auroras que queria boreais; em vagos e, por
vezes, divertidos cogitares. Espremido, mas ainda intenso, saiu e dançou ao meu
redor enquanto eu fazia coisas quaisquer. Escapuliu em contos, crônicas,
poesias; em conversas distraídas; em sonhos. Vazou em conversas telefônicas, em
correspondências eletrônicas e encontros casuais. Saiu, infinitamente, então
solto, livre, desamarrado, em divagações, fantasias e projeções que,
possivelmente, nunca acontecerão.
Foi assim que pensei o quanto foi boa a
tua presença, ainda que incomodando, forçando, pressionando, e te disse um
adeusinho até saudoso. Mas apenas te esquivaste. Bastou eu amolecer, entraste
novamente nesta caixinha, eu outra vez pequena demais. Tu, outra vez, gigante
demais, intenso demais, tentando arrebentar os grampos, a cola, as tachas que
me seguram. Vivo demais. Real demais. Por demais encaixotável.
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